04/08/2013

Eu não sei

Aqui vai um texto que eu escrevi faz um tempo. Bastante autobiográfico e um tanto constrangedor.
Ah fazer o quê, que adolescência não é um pouco constrangedora, não é? NÃO É??
Troquei o nome das pessoas que eu citei, pra manter a sua privacidade, elas não têm culpa de terem feito parte da vida de alguém que não têm vergonha em contar por aí suas histórias constrangedoras...

"Domingo, 18 de janeiro de 2009.


Eu estou aqui.
Eu estou aqui sentindo pena de mim mesma.
Eu estou aqui sentindo pena de mim mesma, escutando Adriana Calcanhotto e me imaginando ela melhorada.
Eu estou aqui, sentindo pena de mim mesma e me auto-flagelando procurando pessoas antigas na internet.
Eu tenho 25 anos. Oito dos quais eu joguei no lixo. Porque eu quis.
Quando eu tinha 13 anos eu me apaixonei por uma menino que eu apelidei, junto com a Luana minha melhor amiga, de “Moreninho”. Ele era obviamente moreno e uma graça, eu achava. E era 1 ano mais velho que eu.
Eu comecei a olhar pra ele porque ele olhava pra mim. Isso me intrigava, porque ele um garoto tão bonitinho olhava pra mim que era tão horrorosinha? De qualquer forma ele olhou e eu aproveitei.
Toda a sétima série foi assim. Eu olhava pra ele e ele olhava pra mim.
A oitava série eu considerei o pior ano da minha vida até então, ele tinha ido para o segundo grau que ficava a léguas de distância! Eu o vi ocasionalmente. No final do ano descobri que ele tinha começado a namorar uma garota, minha conhecida.

Ana Paula era o nome dela.
Eu estudei com ela da terceira até a sexta série.
Ela era uma garota bonita, simpática, morena dos olhos castanhos esverdeados, como os da minha mãe.
Tinha sardinhas no rosto, como a minha mãe.
Agora pensando eu acho que ela era a filha que a minha mãe deveria ter tido, caso não tivesse se juntado com um ogro.
Eu lembro que ela usava aparelho, a Ana Paula não a minha mãe, era a única coisa feia dela, que nem dela era.
Nunca fui amiga dela, eu era de outro grupo, um pouco (muito) mais disfuncional.
Mas ela era muito querida, uma lady.
Eu tinha uma amiga de fossa, a Sara, que também era amiga dela.
A Sara jogava para dois times dependendo do humor. Quando estava por baixo se sentindo a pior das criaturas ela era nossa amiga, minha em especial.
Pode conferir nas contas de telefone da casa dela entre as datas de 1996 a 1998, só dava 336-2101. Eu era a psicóloga/amiga oficial. 
Quando ela estava se sentindo gatinha/cool ela assumia suas amigas bonitinhas do Curitibano.
Foi ela que me deu a notícia de que a Ana Paula e o Moreninho estavam namorando. Mas como sempre, eu encarei como um desafio.
Enfim, o ano de 1997 acabou e eu pude ir para o 1º. ano do 2º. Grau, na Ângelo Sampaio, onde eu encontraria ele todos os dias!
Na primeira semana de aula eu não conseguia nem comer de tão assustada com aquela escola. Todos adolescentes malandrões, sabe-tudo, bonitos e eu reduzida a uma loser do Júnior. Cheia de espinhas na cara, meio gorda, só meio, meus Deus e pensar que hoje eu sou full size!
Vi o Moreninho algumas vezes e ele não me deu muita bola não.

Uma vez eu e as minha amigas do peito fomos sentar num lugar diferente do habitual no intervalo. Onde ficava o pessoal mais descolado da galera de 15 anos!
Ousamos no sentar no meião lá onde provavelmente era o banco cativo de alguns guris. 
Pois bem, esses mesmos começaram a jogar uns papeizinhos, umas bolinhas de papel na gente, pra que a gente saísse, o Moreninho estava lá no grupo.
Não posso dizer que ele colaborou, na verdade ele se retirou, um gentleman (par perfeito pra lady). 
Nós tivemos que aceitar a derrota e saímos com o rabo entre as pernas... nunca mais sentamos lá.

Um dia descobri onde ele morava e pensei em mandar uma carta, e dizer o que eu sentia perguntando se ele por acaso sentia o mesmo.
Mandei logo 3. Duas anônimas com letras de música e outra dizendo tudo.
Um tempinho depois de eu enviar a terceira, eu estou a caminho da sala de aula com a minha turma depois da educação física, ele me vê de dentro da sala dele, sai e sobe correndo as escadas pra ir no banheiro do último andar, o andar da minha sala, apesar de ter um no andar dele.
A Luana me levanta todas as expectativas. Por um momento tudo parecia ir tão bem.
Até que no final dessa mesma semana, aquela minha amiga Sara me põe a par de tudo:
“Fer eu tenho que te contar uma coisa: o Lucas tá namorando a Paulinha (? acho que era esse o apelido dela), a Denise me contou que ele mostrou a tua carta pra ela e eles ficaram rindo juntos!”
Eu encerro logo a conversa, porque a Sara nunca teve tanto tato quanto eu e ligo pra Luana, chorando. Ela me consola. Não me lembro bem o que ela disse.
Depois ela me liga de volta mais tarde e diz que encontrou a Ana Paula no shopping e que ela havia perguntado de mim e se eu ainda estudava no colégio.
Bom trabalho em ser invisível Fernanda!
Segunda-feira eu me encho de coragem, vou ao colégio e finjo que não foi comigo.
E foi assim o ano inteiro. Apesar de alguma incomodações por parte das amigas dela.
Eu lembro que nesse ano o casal saiu na capa do jornalzinho do colégio, sorrindo, um casal perfeito e lindo.
Foi o ano em que eu mais tive espinhas. Meu rosto foi tomado por elas!
Eu esqueci o Moreninho.

No terceirão, dois anos depois ele estava lá fazendo cursinho de novo, não tinha passado. Mas não era a mesma coisa.
A Sara melhorou muito nesse meio tempo. Ficou mais segura de si, descobriu o que queria, quem ela era afinal. Então não precisou mais de mim e assumiu de vez aquele grupo de meninas tão bonitas.

Aquelas pessoas e aquele ambiente era tudo o que eu conhecia. Eu sabia qual era o meu lugar. Estava acostumada em não ter o que eu queria na maior parte das vezes. Era previsível e eu já tinha uma rotina e prática.
Por isso depois de ter decidido que eu iria fazer vestibular para Produção Sonora na Federal, depois de um ano faltando e postergando os estudos eu fiquei completamente desnorteada quando vi o meu nome na lista de aprovados. 18 por 1. Passei em penúltimo.
Não aguentei tanta pressão, depois de um ano e meio de faculdade eu desisti.
Primeiro grande equívoco da lista de péssimas escolhas da minha vida.

Ao mesmo tempo eu fazia Licenciatura em Artes Plásticas na FAP. Desisti, não queria ser professora.
Em 2004 eu comecei pintura na EMBAP. Seis meses depois eu não fui mais, pintura não era comigo.
Em 2007 entrei no primeiro ano de Gravura na EMBAP. Um ano depois...
A questão é que eu sentia uma angústia entre as outras pessoas, meus colegas. Tão desembaraçados, despreocupados, cheios de entusiasmo, cheios de talento, tão bonitos e tão jovens e eu me senti sempre a antítese de tudo isso.
Velha quando eles eram jovens, imatura quando eles eram adultos.
Eu queria cada vez mais me esconder em casa, entre a minha família que me ama não importando o quanto eu pesava, o quanto eu comia, o quanto eu não tinha nada a dizer.
E apesar de ter aumentado muito em volume nesses últimos anos, eu fui diminuindo também, à olhos vistos. Até não poder mais me enxergar direito no espelho.
E estou aqui desde então. Sem reflexo, olhando todos pela janela e sonhando, imaginando que eu estou lá também.
As Saras e Ana Paulas estão lá ainda. Ainda amigas. Enquanto o meu grupo se separou anos atrás. O quanto eu as julguei. Mas elas é que sabem viver. Eu não sei."

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